Ao
atacar a filiação, ataca-se o que fundamenta o vínculo organizacional
identitário... O grupo é atingido em sua integridade e em sua identidade.
É um
ataque pela destruição, não de todos os indivíduos, mas do que fundamenta,
estrutura e contém a identidade comunitária: trata-se de uma implosão
identitária pelo ataque à filiação.
Deve-se comparar a isso a destruição dos
lugares de culto, das bibliotecas e dos arquivos e, mais particularmente, dos
cemitérios e das sepulturas. A ruptura pelo ataque contra os lugares de
memória, contra os rituais e, muito especialmente, contra o ritual da morte, é
uma forma de ataque contra a filiação.
Atacando a filiação, ao mesmo tempo num
movimento ascendente, por uma destruição sacrílega da relação ritualizada com
os antigos, com os mortos da linhagem e, num movimento descendente, às crianças por nascer,
ataca-se os referentes simbólicos da identidade comunitária. Encontra-se, aí,
uma forma de genocídio identitário pelo ataque ao continente grupal e não mais
apenas de conteúdo. Essa dimensão genocida, que ultrapassa um crime de guerra,
faz dela um verdadeiro crime imprescritível contra a humanidade. (Benghozi,
2010, p. 80)
A importância das cerimônias, das manifestações de memória
diante das placas comemorativas de eventos traumáticos da história de uma
comunidade humana... Têm uma função econômica psíquica de resiliência familiar,
social e comunitária para superar o traumatismo catastrófico e encontrar as
fontes de uma nova vitalidade psíquica. (Benghozi, 2005, p. 107)
Benghozi, P. (2010). Malhagem,
filiação e afiliação: psicanálise dos vínculos: casal, família, grupo,
instituição e campo social. São Paulo: Vetor.
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